São Paulo - Para muita gente, torcedores inclusive, a passagem do Palmeiras para a segunda fase da Copa João Havelange já seria uma façanha a ser intensamente comemorada. Algo além das expectativas que se apresentavam no iníco do campeonato.
Vítima de uma sangria intensa que levou Luiz Felipe Scolari - técnico responsável pelo título da Libertadores 99 e pelo vice-campeonato desse ano - e mais uma série de jogadores, o time chegou ao segundo semestre totalmente desfigurado.
Alex, Júnior, Roque Jr., César Sampaio, Rogério , Pena e Asprilla foram vendidos. Marcos e Argel estão contundidos. Chegaram ao clube jogadores promissores e desconhecidos. Do que se ouvia, deduzia-se que a intenção era passar o semestre em branco, esperando reforços e vitórias para 2001.
Só faltou combinar isso com os jogadores. Para Magrão, 2001 está muito distante. Ele tem metas e planos para muito mais cedo. Para amanhã, por exemplo. "É muito importante vencer a Portuguesa, que é um rival direto na luta pelo título", afirma.
Com autoconfiança Título? Não seria mais prudente falar em classificação? "Olha, eu quero esse título da Copa João Havelange. Não é porque os outros não acreditam em nosso time que vou pensar igual. A classificação pode deixar muita gente contente, satisfeita, mas eu quero muito mais. Acredito mesmo que a gente possa ganhar esse campeoanto."
E por que um jogador como Magrão, desconhecido, vindo de um time pequeno, sem um grande currículo, tem o direito de sonhar tão alto, de desafiar os limites que impõem ao seu time? De onde vem tanta confiança?
"Vem da minha vida mesmo. Se eu não confiar em mim, quem é que vai fazer isso por mim?, responde Márcio Rodrigues, 1m86 e 73 quilos, 22 anos apenas em dezembro, volante que começa a se firmar no time. "Sempre fui pobre, sempre tive de lutar por tudo que consegui. Para chegar a um time grande sofri muito e não vou me abater com o que falam da gente. Tenho mais é de surpreender os que não acreditam no Palmeiras."
Aliás, Magrão não sonha com título. Ele planeja títulos, no plural. "A gente se classificou bem na Mercosul e ganhou o primeiro jogo contra o Cruzeiro.
Sei que é difícil, mas não é impossível chegar em duas finais aí. O importante é trabalhar muito para poder alcançar os resultados."
Magrão é de São João Clímaco, "ali, coladinho com a favela Heliópolis, pertinho de São Caetano" e por isso foi natural que começasse a carreira no São Caetano. "Cheguei lá com 16 anos e dava um duro danado para conseguir me manter no time."
A rotina de Magrão realmente não era fácil. Trabalho de manhã, treino à tarde e escola à noite. O tempo mostrou que o futuro estava mesmo na bola.
"Ajudava meu tio na marcenaria dele. Era engraçado, a gente ia fazer trabalho na casa de uns burguesinhos e aparecia por lá sujo demais. O pessoal até estranhava. Eu me esforçava, mas acho que dei mais prejuízo do que ajuda para o meu tio", brinca.
Rotina dura O treino no São Caetano era a melhor parte do dia e a escola à noite apenas um intervalo até a nova manhã de trabalho. "Fiz até o primeiro ano do segundo grau. Ia para a escola e ficava pensando nas jogadas do treino, naquilo que deu certo ou errado. Não dava para estudar muito, não."
Essa chegada ao Palmeiras no início do segundo semestre foi a recompensa esperada depois de tanto esforço. Por isso, a Portuguesa que se cuide amanhã. "Acho difícil classificar os dois times. Quem perder, deve ficar fora e eu não quero que seja o Palmeiras. Vou brigar muito por esses três pontos."
Magrão elogia o time da Portuguesa, espera as recomendações de Marco Aurélio para saber o seu posicionamento em campo, mas sabe que Irênio é o jogador mais perigoso do outro lado.
"Conheço ele da Segunda Divisão do Brasileiro. Estava no São Caetano e ele no América. Ganhamos por 2 a 1. O Irênio é bom, rápido, bate faltas, mas não dá para mudar meu jeito de jogar por causa disso", analisa com a confiança de quem não admite perder a vaga para o time de Irênio.
Magrão pode ter Galeano, atualmente na zaga, como novo companheiro do meio-de-campo, em lugar de Flávio. Essa é uma das opções de Marco Aurélio, que formaria então a dupla de zaga com Gilmar e Paulo Turra. Thiago Matias, o titular, está fora por ter levado o quinto cartão amarelo.
De uma forma ou de outra, o técnico Marco Aurélio tem a intenção de manter o meio-campo com quatro jogadores muito fortes na marcação - Fernando, Rodrigo Taddei, Magrão e Flávio (ou Galeano) - permitindo assim a movimentação mais livre de Arce, como organizador de jogadas pela direita. Foi por ali que o paraguaio mostrou bom entrosamento com Juninho na partida contra o Cruzeiro, pela Mercosul.
A possibilidade de recuar Juninho para o meio, com a entrada de Juliano ou Adriano para formar dupla de ataque com Tuta é remota. Talvez no segundo tempo, se o Palmeiras quiser abrir mais o jogo, buscando a vitória com mais empenho. Os dois times já realizaram vinte jogos. Palmeiras tem 27 pontos e a Portuguesa, 28.