São Paulo - O único jogador do Palmeiras com condições de definir o clássico deste sábado, contra o São Paulo, às 16 horas, no Pacaembu, com a bola dominada é Juninho. Ele assume isso. O meia de 23 anos sabe, que diante da correria e aplicação tática dos seus companheiros, tem o privilégio de poder exercer o seu talento. Até como retribuição ao esforço coletivo, ele quer ser o responsável pela vitória.
“É como se todos corressem e marcassem por mim. Eu sou o único jogador com liberdade e condições de ‘fazer arte’ em campo. Pegar a bola e arriscar um drible, dar uma arrancada, fugir do normal. Devo isso ao time. Sinto que preciso fazer isso para ganharmos do São Paulo no Pacaembu. O Marco Aurélio me dá liberdade a mais do que todos. Eu preciso justificá-la. Muita gente tem que se esforçar por mim”, afirmou.
O meia destaca que nunca tinha defendido uma equipe com tanta mistura tática. No Bahia, o time destacava o toque de bola. O União São João irritava de tanto marcar. “A proposta de jogo do Palmeiras é muito interessante. Nosso time marca forte demais, mas quando recupera a bola ataca com rapidez e objetividade. Eu fico no meio disso tudo”, compara.
Bronca do técnico
Juninho teve uma longa conversa com o treinador palmeirense. Ela foi séria para ele refletir nessas partidas decisivas que o time terá pela Copa João Havelange e Mercosul. Marco Aurélio ficou irritado com o comportamento do seu mais talentoso jogador diante do Atlético Mineiro. E exigiu uma reação de Juninho.
“O Cleisson ficou me irritando, me dando cotovelada, me xingando. Acabou me influenciando e o meu futebol caiu. Não rendi para o time e acabei sendo até substituído. Eu entendi que preciso ter calma. Como jogador mais habilidoso do time tenho certeza que o Levir Culpi irá colocar alguém grudado em mim. Mas não vai me perturbar. Vou correr para conseguir o meu espaço. Não vou mais me irritar”, promete.
Marco Aurélio foi claro e disse que se Juninho ficar irritado o Palmeiras perderá a ligação do meio-de-campo com o ataque e ficará desestruturado. O único pedido do meia a Marco Aurélio foi não jogar de costas para o gol. “Sei que não teremos o Tuta contra o São Paulo, já que ele está suspenso. O melhor será revezar, deixar o Basílio aberto e eu surgindo da intermediária com a bola dominada. Se eu ficar de costas para o gol é desperdício. Conversei e vou jogar como gosto.”
A explicação para a habilidade de Juninho está em sua formação como jogador. Franzino, desde os infantis ele atuava como ponta-direita no Bahia. “Estava indo superbem, quando os pontas foram banidos do futebol. Me passaram para a meia. Mas a minha formação me deu muita velocidade e habilidade. Em compensação, compromete o meu poder de definição. Não estava acostumado a ficar tão livre pelo meio da área. Tinha o costume de buscar a linha de fundo. Por isso perco gols que não poderia. Mas estou melhorando.”
A passagem pela ponta-direita deixou marcas importantes. “Só eu sei, mas quando pego a bola já faço a jogada levando a bola pela direita. É um cacoete. Muitas vezes vejo que seria muito melhor cortar para o meio, mas não consigo. Ainda vai levar muito tempo para que eu possa recuperar o equilíbrio e cair para os dois lados com a mesma facilidade.”
Tradição familiar - Juninho é irmão de Zé Carlos, ex-meia campeão brasileiro pelo Bahia. O São Paulo tentou comprá-lo oferecendo R$ 300 mil mais o passe do lateral-esquerdo Guilherme. A Diretoria baiana recusou. Só que logo Juninho cairia em desgraça. Com problemas de adaptação da ponta para a meia, chegou a ficar seis meses sem jogar e proibido até de treinar. Foi emprestado ao Vila Nova, de Goiás, depois União São João, até a compra de seu passe pelo Palmeiras, em junho, por R$ 1 milhão.
“Minha vida está melhorando. O Zé Carlos já ajudou a nossa família. Estou mantendo o pessoal bem. Duro mesmo é o meu irmão Luciano, que resolveu ser juiz de futebol. Coitada da minha mãe.”