São Paulo - O Wanderley Luxemburgo que prestou depoimento ontem, na CPI do Futebol, não era o mesmo que dirigiu a seleção brasileira de 1998 até o fim da Olimpíada de Sydney. Encolhido na cadeira, acuado, nervoso, atrapalhado e suando bastante, ele não levantou a voz em nenhuma ocasião, como costumava fazer nas coletivas de imprensa após os jogos da seleção.
Esqueceu-se da `fala difícil' e não ousou fazer alguma citação de antigos filósofos ou escritores, como aprendeu a usar desde que assumiu o posto mais alto do futebol brasileiro. Pelo contrário, omitia quase todos os `ss' e engasgava com as palavras. Disse, por exemplo, "desorganamente", quando queria pronunciar desorganizadamente.
O nervosismo do treinador ficou aparente após a apresentação de um trecho do programa Cartão Verde, no qual dizia que empresários ofereciam propinas para que técnicos convocassem determinados jogadores. Luxemburgo, então, perdeu a tranqüilidade e começou a se atrapalhar nas respostas. Não quis dizer o nome dos empresários, quando perguntado pelo relator da comissão, o senador Geraldo Althoff (PFL-SC). "Não vou nominar, porque não posso provar."
Despreparado para responder à maioria das indagações dos senadores, o técnico recorria aos advogados que o acompanhavam, Marcos Malucelli e Michel Assef. O procedimento, constante durante quase todo o depoimento, irritou alguns senadores, até que o presidente da comissão, Álvaro Dias (PSDB-PR), pediu que os advogados saíssem de perto de Luxemburgo.
A postura do treinador era de uma criança que não tinha feito sua lição de casa e tentava explicar-se ao professor. A cada resposta que dava, olhava para os senadores e para seus advogados, com a finalidade de perceber a reação de cada um deles.
Nas duas ocasiões em que foi mais apertado pelos senadores, Luxemburgo correu para o banheiro. Aproveitou os dois minutos que lhe foram concedidos para pedir auxílio aos advogados.
As cinco horas de depoimento tiveram apenas alguns momentos de `debate esportivo', principalmente com as perguntas do senador Maguito Vilela (PMDB-GO), que queria saber se ele se arrependera de não ter levado jogadores acima de 23 anos para a Olimpíada. "O Romário e os jogadores acima da idade não foram convocados porque a seleção sub-23 estava encantando", afirmou Luxemburgo, num dos poncos minutos que teve de descontração.