Brasília - A CPI da Nike espera receber esta semana o dossiê da Polícia Federal sobre o empréstimo de cerca de R$ 4 milhões feito pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) no Banco Araucária, apontado como principal envolvido no esquema de evasão de divisas por meio das contas CC-5. De acordo com o relator da comissão, deputado Silvio Torres (PSDB-SP), a transação teria sido feita dois meses depois de a CBF obter US$ 7 milhões emprestados do Delta National Bank, cuja sede fica no paraíso fiscal das Ilhas Cayman.
Os juros antecipados de 43.57% aplicados nessa operação internacional, com duração de 77 dias, reforçam as suspeitas da CPI de que teria ocorrido, na realidade, um esquema de evasão de divisas. O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, declarou, por intermédio de sua assessoria, que as suspeitas da CPI não procedem.
"Todos os empréstimos que por ventura tenham sido feitos pela confederação obedeceram os trâmites do Banco Central", afirmou. "Não existe nenhum contrato que não tenha respeitado as leis brasileiras". Ele disse dispor de dados sobre empréstimos externos feitos por entidades privadas e até pela Petrobrás com juros acima desse porcentual.
Silvio Torres lembrou que as taxas Price e Libor, aplicadas no mercado internacional na época, eram respectivamente de 5,22% e 8%. Segundo ele, as investigações que a Polícia Federal já vinha fazendo no Banco Araucária vão ajudar a CPI a apurar a origem dessas operações, "realizadas com juros acima do mercado".
Em dois outros empréstimos, feitos igualmente no Delta National Bank, a CBF teria conseguido cerca de US$8 milhões. O ex-senador Luiz Estevão, que teve o pedido de prisão solicitado pelo Ministério Público, é um dos clientes do Delta. O banco possui apenas duas agências, instaladas em Nova York e em Miami.
A CPI da Nike ouve nesta semana sete depoimentos. Segunda, irão depor os jornalistas Jaeci Carvalho e Leandro Quesada, autores de reportagens sobre o tráfico de jogadores menores de idade para o exterior. Na quinta-feira, a comissão vai centralizar sua atenção nas denúncias sobre o uso de passaportes falsificados por jogadores brasileiros. Irão depor os ex-jogadores Careca e Edmar, que deverão ter as contas bancárias abertas pela comissão, e André Augusto Leone.
Também serão ouvidos os empresários Tiroga e Jimmy Martins e o dirigente do União São João, José Mário Pavan.