Porto Alegre - Coube ao vice de futebol Antônio Vicente Martins a resposta mais dura à entrevista de Luiz Felipe Scolari concedida à Zero Hora, na qual o técnico promete “dividir no pescoço” se o Cruzeiro decidir com o Grêmio a Copa João Havelange.
“Ele tem o direito de defender suas convicções. Fez isso com relação ao ditador Augusto Pinochet, de quem é admirador. Ele tem o direito de gostar de ditadores”, alfinetou Martins.
“Ele pode ter feito uma ou outra retaliaçãozinha, mas fez mais do que não fez. Há determinados momentos que ou o pessoal se ajeita ou a anarquia toma conta”, disse Felipão no dia 29 de outubro de 1998, em entrevista à rádio Jovem Pan, de São Paulo.
Pinochet foi o comandante do golpe militar de 1972 no Chile, que derrubou o presidente socialista Salvador Allende, eleito pelo voto direto. Com mão-de-ferro, Pinochet comandou uma ditadura que torturou presos políticos e legou centenas de desaparecidos, nome dado aos seqüestrados, mortos e enterrados em covas clandestinas pelo regime. Na semana passada, o juiz chileno Juan Guzmán Tapia decretou a prisão domiciliar do ex-ditador por violação dos direitos humanos durante o seu governo (1973-1990).
“Houve expressões deselegantes ao Grêmio. O Felipe foi aplaudido pela nossa torcida no jogo Grêmio e Cruzeiro, por causa da relação afetiva com o clube. O tom da entrevista é que nos surpreende”, disse Martins.
Celso Roth, acusado de “falso malandro” por ter dito que o Cruzeiro era favorito no confronto com o Inter, fez uma revelação: em 1999, foi voto vencido na demissão do preparador físico Darlan Schneider, sobrinho de Felipão. Este seria o motivo das desavenças entre ele e o treinador do Cruzeiro.
“Se estivesse no lugar dele, faria basicamente o mesmo. Agradeço ao Felipe por ter me colocado como treinador”, disse Celso Roth.
Os jogadores que trabalharam com o treinador trataram de amenizar. “Não vejo maldade nenhuma nas declarações dele. O Felipão não sabe falar bonito, é o jeito dele”, disse Paulo Nunes.
“Ele pode estar estressado. Isso é comum em final de ano”, disse o lateral Roger.
O preparador físico Paulo Paixão, vitorioso companheiro ao lado do técnico no Grêmio e no Palmeiras, evitou polemizar: “Considero tudo um mal-entendido. É um hábito do Felipão usar esta estratégia para motivar seus jogadores.”