Rio - Presidente do Flamengo em quatro mandatos, Márcio Braga disse, em entrevista ao LANCE!, que há indícios de corrupção na gestão do presidente Edmundo dos Santos Silva, que o derrotou na última eleição no clube.
Segundo ele, a prova é o fato de Edmundo e o também ex-presidente Antônio Augusto Dunshee de Abranches entrarem com vários recursos ao Supremo Tribunal Federal para atrapalhar a CPI do Senado. Afirmou que vai à Justiça para exigir a prestação de contas do dinheiro da ISL.
Qual a sua análise de como foi conduzida a parceria entre Flamengo e ISL?
Márcio Braga: Da parte do Flamengo, foi muito mal. Não cumpriu as metas estabelecidas. Quando aprovamos o contrato, era para pagar as dívidas. O Edmundo assinou, mas não cumpriu. Preferiu comprar jogadores.
L!: Faltou o Conselho Deliberativo exercer um maior controle sobre os atos do presidente?
MB: O Conselho foi complacente com o Edmundo. Em 1999, constataram várias irregularidades e as contas foram aprovadas, o que é incoerência. Em 2000, os Conselhos Fiscal e Deliberativo tiveram culpa por não acompanharem a gestão de Edmundo.
L!: Por que o Conselho agiu desta forma, com Edmundo?
MB: O presidente formulou apoios políticos que são bancados por um balcão de negócios. Diretores e conselheiros têm empresas com contratos com o clube. Os recursos da ISL foram usados com este objetivo. Tanto que aumentou de forma absurda a verba de prestação de serviços e da presidência. Assim, chegou a este número de R$ 37 milhões de serviços.
L!: Mas, afinal, houve prestação de contas do dinhheiro da ISL?
MB: Nehuma conta foi apresentada. Uma prova disso é que ISL fala em R$ 74 milhões enquanto o Edmundo fala em R$ 67 milhões. O Conselho não sabe porque não teve acesso. O Flamengo é uma caixa-preta.
L!: A diretoria alega que os pagamentos no exterior são de responsabilidade da ISL...
MB: Mas é dinheiro do Flamengo. Ele está tentando usar isto para se livrar. Estão tentando esconder.
L!: Há uma auditoria interna, presidida pelo Gilberto Cardoso Filho, analisando as contas. Você acredita que terá eficácia?
MB: Não. O Gilberto chegou a falsificar documentos em seu parecer sobre as contas de 1999. O único jeito para abrir a caixa-preta é na Justiça. Por isso que a oposição, que tem feito o seu papel, decidiu ir à Justiça. (NR: a oposição entrará com uma ação na Justiça para anular a aprovação das contas de 2000)
L!: Na Justiça, poderão ser chamados os diretores da ISL para explicar os pagamentos feitos ao clube e no exterior?
MB: Claro. Todos os diretores vão ser chamados. O Wesley Cardia tem de explicar como liberaram dinheiro para o Edmundo usar em gastos que descumpriram o contrato. Tem de prestar contas do dinheiro.
L!: Por que esta atitude extrema de ir à Justiça?
MB: É preciso estancar esta sangria. Não vejo outro caminho que não o da Justiça.
L!: Qual a razão para o Flamengo ter chegado até esta situação?
MB: A má-fé da atual diretoria e os interesses paralelos que dominaram a gestão Edmundo. O fenômeno não é só no Flamengo, mas um tumor maligno que começa na Rua da Alfândega, na sede da CBF. Não é à toa que o Antônio Augusto (Dunshee de Abranches) é o advogado do Edmundo e do Ricardo Teixeira. Ele pede as mesmas coisas para os dois na Justiça para impedir o trabalho da CPI.
L!: Como você analisa o trabalho da CPI do Senado e a sua atuação em relação ao Flamengo?
MB: A CPI tem prestado um serviço à sociedade. No seu depoimento à CPI, o Edmundo transpirava mentira. Ficou claro que ele é um grande mentiroso. Uma prova foi aquele choro no final. Ele falou que não queria ser tratado como bandido comum. Só porque é presidente do Flamengo quer ser considerado bandido especial.
L!: O Antônio Augusto e o Edmundo dizem que a CPI não pode verificar as contas do Flamengo, que é privado...
MB: Isto não existe. O Flamengo é uma coisa pública. Pertence aos 35 milhões de torcedores. Para mim, estas ações do Antônio Augusto (recursos ao STF) para barrar o trabalho da CPI mostram que eles estão tentando esconder algo. Há indícios de corrupção na administração do Edmundo e também do Antônio Augusto. A venda do Zico até hoje está mal explicada. E tem aquela conta no exterior, que ele abriu. (NR: Antônio Augusto foi presidente em 1981/1982 e vendeu o passe de Zico à Udinese, clube da Itália)
MB: Acho que a postura do Conselho já mudou. Ficou claro que ele não representa bem o clube. É bom dizer que não defendo o impeachment do Edmundo, até porque iam dizer que quero o lugar dele. Mas ele tem de ser obrigado a ser transparente, para estancar o que vem acontecendo.