Poder da palavra contra um passado tortuoso
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García quer novo mandato depois de eleger Fujimori
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Alan García Pérez tenta alcançar pela segunda vez a presidência do Peru, depois de ter sido perseguido, acusado e processado por suposta corrupção durante seu governo, de 1985 a 1990, o único que o social-democrata Partido Aprista Peruano, ao qual o candidato pertence, conquistou em sua longa existência.
As últimas análises de especialistas o colocam em um quase seguro segundo turno eleitoral, pois apontam uma espetacular chegada final, graças ao seu dom de utilizar as palavras. Na última quarta-feira ele animou uma praça de Lima. García não perdeu o poder da palavra. Ele voltou a ser o líder de antes e manteve a massa ofegante, graças a suas idéias, propostas, reflexões, um pedido de perdão por seus erros e até mesmo um poema, que ele recitou palavra por palavra, sempre sem erro.
Alan García, de 51 anos, se transformou aos 36 anos em um dos presidentes mais jovens deste país, mas durante cinco anos de administração populista deixou a nação com a economia devastada, a mercê das organizações terroristas e com a classe política despedaçada. Seu cálculo político falhou quando não previu que o candidato Alberto Fujimori, ao qual ajudou a se eleger em 1990, ordenaria sua prisão em uma madrugada, dois anos depois, com a intenção de matá-lo, segundo ele mesmo confessou.
Em 1992 ele se exilou na Colômbia, mas viveu mais tempo na França, onde tem recordações de seus anos de estudante de Sociologia na Universidade de Paris. Ele diz que pagou seus estudos cantando nos restaurantes da capital francesa. Esse ano ele fez sua campanha cantando valsas peruanas.
Alan García nasceu em Lima em 23 de maio de 1949. Se casou com a argentina Pilar Nores. Estudou em escolas e universidades públicas peruanas. Em 1972 ele fez doutorado em Direito na Universidade Complutense de Madri. Em 1978 foi eleito para a Assembléia Nacional Constituinte e dois anos depois foi deputado por Lima. Em 1985 venceu a eleição para a presidência do Peru com uma vantagem tão grande, que inibiu o socialista Alfonso Barrantes da contagem.
Ao fim de seu mandato acumulava denúncias de participação pessoal em atos de corrupção, que se transformaram em julgamentos por enriquecimento ilícito, malversação de dinheiro do Estado, peculato e outros, aos quais ele não se apresentou. Porém, nenhum dos processos contra ele teve sentença judicial. O Congresso fujimorista aprovou leis contra García, ao criar a figura do 'réu contumaz' e uma outra para evitar a candidatura a cargos públicos de pessoas com julgamentos pendentes.
Depois da queda de Fujimori e da modificação das forças parlamentares, as leis foram relativizadas, permitindo seu retorno ao país e a nova candidatura presidencial. Alan García, se não for eleito, provavelmente viverá no próximo domingo, dia das eleições, a satisfação pessoal de vencer Fernando Olivera, também candidato presidencial, que como deputado foi um implacável perseguidor do ex-presidente.
AFP
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