Repórter Terra |
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"Problema da fome no mundo não é falta de alimentos"
Adriano Floriani
A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) recomenda cautela na liberação dos transgênicos. De acordo com o representante da organização no Brasil, José Tubino, a FAO indica precaução e não recomenda a liberação dos transgênicos sem que sejam feitos os estudos necessários. Tubino disse ainda que o problema da fome no mundo não está associado à falta de alimentos e sim à concentração das riquezas.
1) Qual a orientação da FAO sobre os transgênicos?
Recomendamos precaução e estudos de impacto ambiental desses produtos.
2) Os transgênicos podem acabar com a fome no mundo?
No mundo atual o problema da fome não é aumentar a produção de alimentos. Existem alimentos suficientes para acabar com a fome. A questão é o problema de acesso a esses alimentos. Por outro lado, há crescimento da população mundial e é preciso melhorar a produtividade, de forma sustentável, e reduzir problemas como a deterioração do solo. É preciso mais pesquisas para atingir o sistema de produção, reduzir os custos ambientais e sociais, reconhecendo os resultados da Revolução Verde, que trouxe um aumento da produtividade, resolveu problemas de falta de alimentos no mundo, mas também criou outros problemas. É preciso melhorar os sistemas, os produtos e garantir a segurança alimentar.
3) Como a FAO está acompanhando a polêmica sobre os transgênicos no Brasil?
O passo fundamental é estabelecer marco regulatório, fazer estudos básicos, respeitar a lei e considerar a situação dos produtores quanto à questão dos subsídios agrícolas que deprimem preços, distorcem o mercado e os sistemas de produção. O Brasil tem uma vantagem comparativa no setor agrícola e tem que aproveitar essa capacidade, sempre considerando o potencial produtivo sustentável e a situação da agricultura familiar.
4) A FAO está empenhada em realizar pesquisas sobre os OGMs?
Nós não estamos fazendo pesquisas ou avaliando impacto ambiental dos OGMs. Isso é responsabilidade dos países e das companhias que produzem essa tecnologia. O que fazemos é apoiar os países para fortalecer a capacidade de comissões técnicas como a CTNBio. Dentro da FAO existe um comitê de bioética para produtos agrícolas e alimentares. Acreditamos que pesquisas para reduzir a aplicação de agrotóxicos devem ser impulsionadas. A tecnologia também tem impactos sociais. Existe uma dimensão política e também ambiental e ética, principalmente na ciência aplicada ao ser humano.
5) As sementes devem ser consideradas patrimônio da humanidade? Como fica a questão dos royalties?
A FAO teve uma discussão sobre o direito do pesquisador para ter proteção quanto aos seus investimentos, mas também reconhecendo o direito dos produtores tradicionais, que usaram as sementes ao longo do tempo e conservaram seu germoplasma que ainda hoje está disponível.
Terra
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