Shakespeare já diria, em sua peça Rei Lear, que a pior coisa que pode acontecer a um homem é ficar velho antes de ficar sábio. Para envelhecer com sabedoria e felicidade, portanto, não adianta fingir que idade não chega, ou procurar soluções mágicas: é preciso enfrentar a situação, ainda que isto traga sofrimento.
"As pessoas maduras têm uma grande vantagem sobre as outras: elas são capazes de pensar sobre os sentimentos, e de sentir mais claramente os pensamentos. E esta capacidade de reflexão e de compreensão da vida é um grande trunfo dos mais velhos", afirma a psicóloga Helena Beatriz Balbinotti, especialista em psico-gerontologia e coordenadora da Clínica de Atendimento ao Adulto Maduro (CLAM), de Porto Alegre.
Ela explica que, para o processo de amadurecimento correr de maneira saudável, é preciso combinar aspectos físicos, psicológicos, sociais e culturais, isto é, deve-se cuidar da saúde, da mente, das relações afetivas (de todos os tipos) e do aprendizado e reflexão sobre a vida.
Para quem tem dificuldade de lidar com isso, uma boa opção é a terapia. "A idéia de que a terapia não se aplica a pessoas de mais idade já está superada", afirma Helena. "Pessoas de todas as idades podem se beneficiar de um tratamento em que expõem seus medos e aprendem a lidar com eles". O grande problema, segundo ela, é que, além do estigma de "loucas" que ainda recebem as pessoas que se submetem à terapia (especialmente as mais velhas), o preço de um tratamento psicoterápico ainda é muito alto.
"Os planos de saúde se recusam a cobrir este tipo de tratamento, o que impede o acesso de muitas pessoas". Mas há soluções: cada vez mais, são oferecidos trabalhos em grupos para pessoas da "terceira idade", e há muitos grupos de discussão e mesmo de convivência que ajudam a suprir essa necessidade. "O que as pessoas não podem fazer é se recolher a uma posição de vítimas. Elas precisam ser responsáveis por seu crescimento pessoal em todos os momentos de suas vidas", conclui Helena.