Quando se trata de resistir aos apelos dos doces e outras guloseimas, os genes podem fazer muita diferença, segundo pesquisadores. A razão para conseguir comer apenas um salgadinho ou recusar um delicioso pedaço de bolo de chocolate pode estar guardada nas profundezas do DNA, segundo estudo publicado no American Journal of Clinical Nutrition.
"Mesmo que fatores ambientais, psicológicos e fisiológicos afetem o apetite e o consumo de nutrientes, vários estudos sugeriram que comportamentos relacionados à preferência por alimentos e bebidas e o consumo de nutrientes são, pelo menos parcialmente, determinados geneticamente", informou a equipe de Alan Shuldiner, do Departamento de Endocrinologia, Diabete e Nutrição da Escola de Medicina da Universidade de Maryland, em Baltimore.
A equipe queria avaliar o componente genético da obesidade e dos comportamentos alimentares que provocam o distúrbio. Para isso, estudaram os hábitos alimentares e o perfil genético de 624 adultos de 28 famílias "amish" da Pensilvânia que participaram do Amish Family Diabetes Study, iniciado em 1995. As famílias amish - comunidade de seguidores menonitas de Jacob Amman dos Estados Unidos - "são maravilhosas para estudos genéticos, pois são todas descendentes de uma população homogênea de pioneiros. Residem em uma área relativamente bem delimitada e mantiveram registros genealógicos extensos."
Os pesquisadores pediram a todos os voluntários para preencher questionários sobre hábitos alimentares que incluíram perguntas tipo verdadeiro ou falso como: "Não como determinados alimentos porque engordam", "quando estou com alguém que come muito, geralmente também como muito" e "sinto tanta fome que meu estômago geralmente parece um buraco sem fundo".
Os pesquisadores avaliaram os três principais comportamentos alimentares. Um é o contido, medida da possibilidade da pessoa conseguir dizer não se pensa que algo engorda. Outro é o desinibido, aquele usado para medir a dificuldade de alguém dizer não para a segunda porção da comida favorita. O terceiro é o faminto. A equipe também avaliou nível de açúcar no sangue em jejum, colesterol e índice de massa corporal (IMC) de cada voluntário. O IMC é uma medida do peso em relação à altura.
Os pesquisadores verificaram que os índices de comportamento reprimido, desinibido e faminto foram relacionados à obesidade e que índices altos tenderam a ocorrer em determinadas famílias. Os autores decidiram avaliar o genoma das famílias com altos índices para verificar se tinham porções comuns de DNA. A equipe isolou algumas regiões em determinados cromossomas que pareceram associadas ao comportamento reprimido e desinibido.
Ainda não encontraram os genes associados a cada comportamento alimentar, mas há alguns candidatos - identificados por outros cientistas - presentes nos cromossomas de interesse. A equipe de Shuldiner verificou que uma região no cromossoma 3 pareceu associada à capacidade de recusar a segundo porção. Um gene que codifica um receptor encontrado em abundância em tecido adiposo está localizado nesta seção.
Shuldiner espera que a pesquisa genética ajude os cientistas a encontrar melhores tratamentos contra a obesidade. "As informações obtidas pela identificação dos genes que influenciam o comportamento alimentar poderiam oferecer novos objetivos moleculares para a identificação precoce de pessoas suscetíveis à obesidade, proporcionar avanços no desenvolvimento de intervenções preventivas e oferecer novos alvos para drogas usadas no tratamento da obesidade e de distúrbios relacionados", avaliou a equipe.