Teresópolis - Rivaldo reclama constantemente não ter o assédio da imprensa que deveria por ser o melhor do mundo. Mas, depois de conviver com Romário na Granja Comary, está aprendendo rápido o significado da palavra carisma.
Não existe outra explicação para um jogador de 34 anos, inimigo público do treinador da seleção brasileira, dar uma entrevista para a imprensa de todo o País desafiando Wanderley Luxemburgo desse jeito.
“Vou fazer com que ele se arrependa por não ter me chamado para a Olimpíada.” Não satisfeito, foi além ontem: “Não estou na expectativa para esta partida contra a Bolívia. Esse jogo é mais importante para o Brasil, que está mal nas Eliminatórias, do que para mim. Será apenas mais uma partida em que farei os gols que o time precisa que eu faça.” Prepotente, ironizou Luxemburgo, que havia dito na segunda-feira que ele seria a "o salvador da Pátria", aquele que daria a vitória ao Brasil.
Rindo bastante, não perdoou. “Pelo menos em uma coisa eu e o Wanderley concordamos. Nós dois sabemos que vou decidir o jogo.”
Como foi o reencontro com Luxemburgo depois que você afirmou que "coisa ruim se destrói sozinha", se referindo aos problemas do treinador com Renata Alves?
Romário – Foi normal, como com os outros jogadores. Não houve conversa especial comigo. Não foi difícil me reencontrar com o Wanderley, não...
Zico disse que você não foi convocado porque seu corpo não suportaria uma competição forte, com sete partidas seguidas como a Olimpíada.
Romário - Não foi por isso que o Wanderley não me chamou. Os motivos são outros, mas isso é com ele. De 50 jogos no Vasco, atuei em 45 e fiz 49 gols, me parece até uma boa média, não é? Estou bem fisicamente. As pessoas precisam parar de ouvir declarações de quem não tem noção das coisas.
O que você sente por não ir para a Olimpíada?
Fico magoado. Mas o sonho ainda não acabou. As inscrições podem ser feitas até o dia primeiro de setembro. Vou fazer com que o Wanderley se arrependa por não ter me chamado. Ainda dá tempo.
Eurico Miranda disse que você não deveria se apresentar à seleção principal, já que não vai à Olimpíada. Que o Wanderley está usando você...
Romário - O Eurico Miranda sabe o que fala. Ele é inteligente. E bastante homem para cumprir o que combina, por isso somos amigos. Me apresentei porque tenho prazer em jogar pela seleção brasileira. Não diria não à Seleção por qualquer coisa que tenha acontecido entre o treinador e eu.
Contra o Barcelona e Alemanha você foi chamado e foi mal.
Romário - Essas partidas foram amistosas. Sempre faço o máximo com a camisa do Brasil. Vamos ver o que acontece quando o jogo estiver valendo pelas Eliminatórias da Copa.
Rivaldo disse que faltava na seleção brasileira um atacante conhecido que impusesse respeito nos zagueiros.
Romário - Eu também acho. O Brasil precisa ter referência no ataque. Quanto mais os adversários tiverem pela frente jogadores que respeitam, melhor para nós. Eu sou um deles. E quero agradecer ao Rivaldo, ele reconhece minha importância.
O ataque brasileiro tem sido uma nulidade nas Eliminatórias. O que acha de jogar ao lado do Ronaldinho Gaúcho?
Romário - Estamos no mesmo quarto, mas ontem (segunda-feira) dormimos rápido, não conversamos. Mas vou falar com ele. Esse garoto tem potencial para ser um dos melhores do mundo. É habilidoso, rápido, acho que nos daremos muito bem. O ataque irá voltar a marcar.
Você está tenso, na expectativa do que vai render contra a Bolívia?
Romário - Não estou na expectativa. Esse jogo é mais importante para o Brasil, que está mal nas Eliminatórias, do que para mim. Será mais uma partida na qual farei os gols que o time espera que eu faça.
Há chance de jogar contra a Bolívia e depois desistir da seleção por não ter ido até a Olimpíada?
Romário - De jeito nenhum. Ficarei na seleção normalmente. Não vou abrir mão dela por nada.
Houve muita confusão no Vasco pela faixa de capitão. E na seleção, aceitou o Cafu? Ficou chateado?
Romário - Sem confusão...