Teresópolis - O melhor do mundo não tem prestígio de sua posição na seleção. Rivaldo teve o seu brilho ofuscado com a chegada de Romário ao grupo que se prepara na Granja Comary para o jogo deste domingo no Maracanã, contra a Bolívia, pelas Eliminatórias-2002. Embora ele não admita abertamente, está mais do que explícito que ele está sentindo o baque, e muito.
“Ninguém está com a bola cheia aqui. Romário é só mais um no grupo da Seleção, que vai mal nas Eliminatórias e tem de se recuperar”, disse. “Romário é um grande jogador, que preocupa os adversários e gosta de falar muito, chamando a responsabilidade para si. Mas a responsabilidade não é só dele e sim da equipe.”
O sentimento de Rivaldo e de outros medalhões, porém, não bate com os dos mais jovens, como Ronaldinho Gaúcho e Alex, que na quarta-feira rasgaram seda para o Baixinho.
Rivaldo chegou à Granja Comary, em Teresópolis, dizendo que seria um prazer jogar com Romário, que o deixaria na posição de coadjuvante e que preferia jogar assim, sem tanta responsabilidade. No entanto, depois de quatro dias, as atitudes de Rivaldo, tanto dentro quanto fora de campo explicitavam o incômodo.
Um bom exemplo ocorreu na manhã de quinta-feira. Romário não participou do treino físico, pois ficou na sala de musculação fazendo alongamento e fortalecimento da musculatura da coxa. Enquanto isso, os outros jogadores ficaram se divertindo com uma roda de bobo e, como o Baixinho fizera na véspera, só Flávio Conceição usava um casaco amarelo, enquanto os outros estavam de uniforme azul. Rivaldo não perdoou: “Olha só, o Flávio Conceição está querendo ser igual ao Romário, está diferente de todo mundo.”
Em campo, também é possível perceber qual o sentimento do melhor jogador do mundo em relação à marra do Baixinho. No coletivo realizado à tarde, com duração de 50 minutos, Rivaldo só tocou a bola para Romário uma vez, sendo que foi um passe despretencioso no meio-campo. A insatisfação do Baixinho era visível. Em diversas jogadas, ele pedia a bola livre de marcação, mas Rivaldo sempre tentava a jogada individual, passava para outro companheiro ou arriscava o chute. Para Romário, nada, que só podia lamentar.
Na saída do treino – vencido pelos reservas por 3 a 2 – Rivaldo tentou dizer que era bom contar com a presença de Romário em campo, mesmo sem ter tentado tabelar com ele uma única vez sequer.
“Ele nos deixa mais liberados, abre mais espaços. É bom tê-lo no time”, disse Rivaldo, sem muita convicção.
O técnico Wanderley Luxemburgo se mantém alheio ao assunto. Para ele, o problema se deve à timidez de Rivaldo e não é ciúmes. “Rivaldo é um cara mais tímido e Romário aparece mais mesmo, ele é assim naturalmente”, falou Luxemburgo.