Sydney - Dez minutos para chorar. Foi esse o prazo que o técnico da equipe de vôlei feminino, Bernardo Rezende, o Bernardinho, deu ao time após a derrota para Cuba, na semifinal, quinta-feira, por 3 a 2. Dois dias depois, a equipe voltou à quadra, fez 3 a 0 (25/18, 25/22 e 25/21) nos Estados Unidos, e conquistou a quinta medalha de bronze do Brasil nesta Olimpíada. Ao contrário do masculino, que decepcionou contra a Argentina, as meninas só perderam para as campeãs do torneio e saíram chorando de novo. Desta vez, de alegria.
"Claro que queríamos ir para a final, mas o brasileiro precisa ter outra mentalidade em uma Olimpíada", declarou o treinador. "Terminou o jogo contra Cuba e falei que elas tinham dez minutos para chorar, porque depois disso precisávamos nos preparar para o bronze”. Com essa determinação, Bernardinho levou o time ao segundo bronze em duas Olimpíadas consecutivas. Se houvesse medalha para técnico, essa seria a sua terceira. Em 1984, Bernardo foi prata como jogador do vôlei masculino.
Depois de sete anos bem sucedidos no feminino, com três títulos de Grand Prix e um vice mundial, Bernardinho está sendo cotado para assumir a seleção masculina. "Só vou pensar nisso no Brasil", desconversa o técnico. "Por enquanto, não posso dizer nem que sim, nem que não”. O certo é que ele não quer mais acumular duas equipes. Além da seleção, Bernardo dirige o Rexona, de Curitiba, campeão da Liga Feminina. "Não vou continuar com as duas, mas ainda conversarei muito até decidir", confirmou o treinador.
Como as seleções só voltam a se reunir em janeiro, Bernardinho não muda seu estilo e já está pensando no Rexona. Quando a atacante americana Logan Tom passou por ele e se despediu, o técnico fez uma saudação e perguntou se ela não gostaria de jogar no Brasil. "Tenho que tentar, não é?", prossegue o técnico, voltando-se para os jornalistas. "Já pensou ela e a Érika como ponteiras no meu time?”.
Esse entusiasmo do técnico pelo trabalho e pelas vitórias acabou contagiando as jogadoras, que festejaram o bronze como ouro. "Esse bronze tem gosto de ouro mesmo", afirmou Leila, muito emocionada. E ela tinha alguns motivos para isso. Além de estar completando 29 anos, a jogadora fazia sua última partida olímpica conquistando a segunda medalha consecutiva. "Valeu por todo o trabalho que tivemos e por esse grupo, que me ajudou nos momentos difíceis”.
Destaque do jogo, a ponteira Erika comemorou muito, mas lembrou da importância de se continuar com a renovação da equipe. "Espero que surjam novos valores para tentarmos o ouro na próxima", afirmou a atacante. Sempre pensando adiante, Bernardinho acha que a equipe ainda precisa de uma levantadora e outra atacante de ponta. "Com trabalho, elas aparecem", aposta.
Apesar do bronze de uma certa frustração, o vôlei feminino do Brasil mostrou em Sydney que já faz escola. "Sempre imitamos o estilo de jogar do Brasil e queríamos homenagear as brasileiras tirando a medalha de ouro delas, mas não conseguimos", declarou o técnico americano, Mick Haley. "É extraordinário uma equipe que só perde três sets em uma Olimpíada e fica fora da decisão", lamentou Haley. Para Bernardinho, isso pode ser uma injustiça, mas o melhor jeito de corrigi-la é trabalhando. É o que ele pretende continuar fazendo.