São Paulo – Zagallo é um “teimoso”. Desempregado há um ano, procurava um time para voltar ao futebol. Completou 69 anos em agosto e nada de ser contratado por um clube. De repente, apareceu o Flamengo – uma equipe em crise apesar de reunir jogadores consagrados.
Zagallo aceitou o desafio. Em apenas dois jogos sob seu comando, o Flamengo já é outro. Na sexta-feira humilhou o Vasco – foram 4 a 0 contra o desafeto Romário.
“Não há motivos para comemorar. Só podemos festejar quando chegarmos à classificação”, disse Zagallo depois da goleada. Apesar da declaração, a noite de sexta-feira o desmente. Assim como os jogadores, os torcedores voltaram a acreditar que o time formado por estrelas pode ir longe na Copa João Havelange.
“O time teve um crescimento muito grande do primeiro jogo para este. Se continuarmos assim estamos no caminho certo”, disse o técnico. Com 26 pontos, o Flamengo está na zona intermediária da tabela do campeonato e precisa de três vitórias, nos cinco jogos que disputará, para ficar entre os 12 classificados.
Os jogadores afirmam que o principal mérito de Zagallo foi acertar o posicionamento da equipe. “Vinha jogando fora da minha posição e, agora, vou poder ajudar mais o Flamengo”, explicou Edílson. Com Carlinhos, o atacante vinha atuando próximo à área sem a mobilidade da época do Corinthians. Mais recuado, Edílson teve espaço para executar os dribles e jogadas com os quais se destacou. Adriano cresceu junto com o restante do time, pois passou a receber mais bolas na frente.
Peça fundamental
Outro mérito de Zagallo foi encontrar a posição ideal para o iugoslavo Petkovic, que se tornou o número 1 do Flamengo. Um dos poucos que vinham jogando bem, o meia tornou-se peça fundamental da nova fase da equipe ao centralizar as jogadas de ataque. Na vitória contra o Vasco, marcou dois belos gols.
E disse: “Este resultado nos dá moral e era o que precisávamos continuar na disputa do campeonato.” A influência decisiva do veterano treinador foi em relação ao estado psicológico do time, como reconheceu Romário, seu eterno rival. “É um vencedor e sua presença certamente motivou o time do Flamengo”, disse o artilheiro.
Antes abatidos, os rubro-negros deixaram de lado as vaidades, pelo menos por enquanto, e passaram a se esforçar mais. Foi um resposta ao chamado do velho técnico.“Nem tão velho assim”, rebate Zagallo.
Violência Mas na noite que prometia muita alegria e festa dos torcedores do Flamengo, a violência tomou conta nas proximidades do Maracanã depois do jogo. Um menor morreu e um rapaz de 18 anos ficou gravemente ferido durante uma briga, na saída do jogo.
O estudante Flávio Augusto Marinho de Araújo, de 14 anos, foi baleado perto do estádio do Maracanã. Os autores dos disparos teriam sido policiais militares. Rodrigo Cunha Coutinho, de 18 anos, também estudante, foi espancado e está internado em estado grave. Os dois eram torcedores do Flamengo. Pelo menos 25 pessoas foram detidas.
Flávio levou três tiros e morreu na hora. O sargento do Exército reformado Almir Matias Teixeira e o capitão PM Luciano Martins de Araújo foram presos sob suspeita de terem baleado o menor. Em depoimento à polícia, alegaram ter reagido a uma tentativa de assalto. Segundo a equipe médica do Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro, para onde Coutinho foi levado, ele sofreu politraumatismo e ainda corre risco de vida.
João Pereira Lima, de 38 anos, que foi atropelado em frente ao estádio, continuava em observação até o meio-dia desta sábado. Seu corpo foi lançado por jovens no pára-brisa de um carro. O hospital divulgou que seu estado é grave. Outras três pessoas foram atropeladas, mas sem gravidade.
Dois mil policiais militares foram mobilizados para a segurança ao redor do Maracanã – três vezes mais do que de costume, informou a PM. Vários jovens foram apedrejados por torcidas rivais. A 18ª DP registrou mais de 15 ocorrências no horário do jogo, entre apedrejamentos de veículos, pancadaria e arrastões.
O governador Anthony Garotinho afirmou: “Nenhum esquema de segurança será suficiente para conter a violência se a população não se conscientizar que estádio de futebol é local para torcer. As pessoas não podem ir armadas para o estádio, que é um lugar de alegria. Pode haver dois mil policiais, mas se há um único sujeito cheio de cachaça ou cerveja, com uma arma escondida, ele pode tirar a vida de uma pessoa.”