Primeiro Dia
Juro que não imaginava a metade
Quando fui avisado que iria para o Rio de Janeiro, fazer um especial
sobre os bailes funk, confesso que não fazia a menor idéia do que
iria encontrar. A primeira vez que entrei em contato com o ritmo havia sido já
neste ano, durante o carnaval, para uma outra cobertura especial do Terra. Só
conhecia refrões das principais músicas que grudaram nos trios elétricos
de Salvador e nas rádios paulistanas como Vou passar cerol na mão,
Só um tapinha não dói ou Tá dominado, tá
tudo dominado.
A pauta era simples, e bem extensa: mostrar a realidade do funk,
ritmo que já há quase trinta anos (e não uns dez, como eu
pensava) domina e diverte os finais de semana cariocas. A primeira coisa que fiz
foi uma consulta aos arquivos de matérias já publicadas sobre funk
e logo pensei em comprar um colete à prova de balas: a maioria das notícias
era ou denúncia de drogas, ou de mortes e pancadaria ou sobre as duas coisas
juntas. Eu estava lendo sobre festas ou matadouros?
Mas, logo depois, a Clarissa, produtora deste Repórter
Terra, me arrumou uma série de entrevistas com freqüentadores de bailes.
E eu vi que havia gente normal (e não só traficantes, assassinos
e lutadores frustrados) que ia aos bailes e, para espanto, simplesmente se divertiam
sem violência ou mortes. Foi aí que eu comecei a perceber qual era
o trabalho: mostrar as várias faces do funk, que teve (e tem) seus lados
violentos, mas que atrai milhares de pessoas todos os finais de semana para os
bailes, com a sua batida forte, rápida e alegre.
A primeira coisa a esclarecer eram as denúncias de orgias
com menores de idade nos meios dos bailes. Já adianto que nos bailes que
fui não encontrei ninguém pelado (meu lado jornalista me obriga
a dizer: infelizmente...:-), muito menos participando de um bacanal na frente
de todo mundo. Amanhã eu explico melhor como foi o meu primeiro contato
com o lado podre do funk e as denúncias que pesam sobre ele (não
sobre o ritmo ou a batida, mas sobre alguns bailes e alguns organizadores - nunca
é demais ressaltar).
Confira também:
O segundo dia - O lado podre do funk
O terceiro dia - Aquecimento para o baile
O quarto dia - Enfim, o batidão e as popozudas
Théo Araújo
Março/2001
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