Segundo Dia
O lado podre do funk

Cheguei ao Rio de Janeiro logo de manhã cedo e tinha um dia longo pela frente: uma série de entrevistas marcadas com autoridades que iriam me dar uma dimensão das denúncias contra o funk, antes de eu conversar com os freqüentadores e com as estrelas do ritmo. A primeira delas foi na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, onde fiquei sabendo mais detalhes sobre uma CPI que teria acontecido para investigar os bailes.

O impulso de comprar um colete à prova de balas voltou com uma certa força à minha cabeça, depois de algumas horas de conversa. Tive acesso a algumas provas e uma série de denúncias que davam corpo às notícias que eu tinha lido nos jornais, no dia anterior: ocorrência dos Corredores da Morte, onde o baile era literalmente dividido entre galeras e quem invadisse o outro lado era espancado, e uma série de outras acusações de violência, apologia ao crime, ao consumo de drogas e outras coisas mais (vou contar mais sobre o assunto nas reportagens de amanhã).

Logo depois, fui a uma delegacia, em um bairro afastado do Rio (pra lá da Linha Amarela, o que para mim significou um bom tempo andando de táxi), conversar com um delegado que também tinha informações sobre os bailes e sobre a violência. Em uma verdadeira mesa redonda de policiais, consegui descobrir mais e mais denúncias e acusações contra os bailes cariocas. Mas, detalhe: como na Assembléia, os fatos sempre tinham acontecido no passado, no máximo datando do começo do ano 2000. E os próprios policiais, como o entrevistado na Assembléia, admitiram: os bailes funk de hoje estão bem menos violentos e, se há denúncias, agora elas mudaram de tipo: são sobre sexo, pornografia, erotização... enfim, o trivial variado que outros ritmos, como o Axé Music, já sofreram (só que, ao que eu me lembre, nunca com acusações tão sérias como a das "grávidas do funk").

Confira também:
O primeiro dia - Juro que não imaginava a metade
O terceiro dia - Aquecimento para o baile
O quarto dia - Enfim, o batidão e as popozudas

Théo Araújo
Março/2001