Terceiro Dia
Aquecimento para o baile
Acordei cedo, bem cedo, esperando que o dia tivesse bem mais que 24 horas naquela sexta-feira. Não só porque sabia que iria ficar até altas horas da madrugada em um baile funk, mas principalmente porque a agenda de entrevistas estava lotada, da manhã à noite.
A primeira parada foi no juizado de menores onde consegui conversar um pouco com Siro Darlan, que ficou nacionalmente conhecido ao mandar tirar as crianças da novela Laços de Família, da Globo. Embora conhecesse o juiz de reputação, eu não fazia a menor idéia de como era a sua cara. Fui apresentado a um senhor simpático, que, usando uma gravata do Garfield, deu uma boa entrevista contando sobre a atuação do juizado na questão do funk.
Depois de ouvirmos uma das últimas entrevistas necessárias para nos pautar para o cara-a-cara com os funkeiros, eu, o Marcelo Duarte (cinegrafista) e o Rogério Lorenzoni (fotógrafo) fomos para a Câmara dos Vereadores do Rio nos encontrar com Verônica Costa, a auto-intitulada "Mãe Loura do Funk, glamourosa e purpurinada". Seu marido, Rômulo, uma das principais figuras do funk desde que ele se estabeleceu nos morros cariocas, há quase trinta anos, deu antes a entrevista e não se esquivou de tratar de assuntos polêmicos, como suas prisões, o caso de seu filho e outras acusações feitas ao movimento funk em geral e à Furacão 2000 em particular. Verônica, que chegou um pouco atrasada, foi logo pedindo desculpas e disse que era "uma mulher humilde, do povo" e que o atraso não era "estrelismo". O DJ Marlboro, outra das lendas do funk, que também há mais de duas décadas produz e divulga o ritmo, foi a nossa última entrevista "calma" do dia, direto da gravação do seu programa na Rádio FM O Dia.
O aquecimento para o baile - Uma breve (e corrida) pausa para o jantar foi logo seguida pela entrevista com duas novas MC's, a Loura e a Gabi, que, esbanjando energia, nos deram uma prévia do que seria o baile. Vi, pela primeira vez, as coreografias dos bailes dançadas por cariocas (e não por paulistanos, baianos, ...) e entendi um pouco mais como era a mente dos jovens que freqüentavam estas festas. Não sei o quanto é diferente da minha própria experiência - a festas lotadas eu já estou acostumado a ir, a diferença é o ritmo e, claro, a dança: as raves e casas noturnas paulistas não têm coreografias tão estilizadas e nem tão... erotizadas.
O baile funk da Salgueiro, tão comentado por artistas como a própria Fernanda Abreu, foi escolhido para nos apresentar ao mundo funk. Logo na rua, improvisada por muitos como estacionamento, percebi a "diferença" carioca que a maioria dos entrevistados me tinha falado: carros importados dividiam espaço com automóveis velhos. E a própria fila já mostrava que havia gente que seria classificada pelos próprios cariocas como "zona sul", com seus sapatos e camisas de marca, quando os da "zona norte", com os bonés, bermudas e camisetas.
Vou interromper este dia por aqui (o diário já está ficando bem longo) e conto em detalhes, amanhã, como foram os bailes funk que eu visitei na Cidade Maravilhosa.
Confira também:
O primeiro dia - Juro que não imaginava a metade
O segundo dia - O lado podre do funk
O quarto dia - Enfim, o batidão e as popozudas
Théo Araújo
Março/2001
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