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Conheça as razões de quem é contra os transgênicos
Adriano Floriani
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Arte/Terra |
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O principal argumento contra os transgênicos defendido por ambientalistas, pequenos agricultores, consumidores e por parte da comunidade científica é o de que eles podem trazer riscos ainda desconhecidos para a saúde e para o meio ambiente. Nesta edição, o Repórter Terra expõe os pontos de vista daqueles que se opõem à comercialização imediata dos organismos geneticamente modificados (OGMs).
Não existe consenso no meio científico sobre a segurança dos OGMs. Enquanto alguns defendem os benefícios desse avanço da ciência e sua aplicação imediata, outros afirmam que são necessários estudos independentes de longo prazo para definir as conseqüências de sua introdução na natureza e na alimentação humana.
Os motivos para o medo dos OGMs variam de acordo com o grupo social: pequenos agricultores temem ficar dependentes das multinacionais que produzem sementes e herbicidas. Entidades de defesa do consumidor e do cidadão querem alimentos sadios e exigem o direito de saber quais são os produtos elaborados com OGMs. Ambientalistas temem o efeito que eles podem ter sobre os ecossistemas.
Reações alérgicas
Entre os principais riscos da inserção de um ou mais genes no código genético de um organismo estaria a produção de novas proteínas alergênicas ou de substâncias que provocariam efeitos tóxicos não identificados em testes preliminares. Ou seja, o gene de uma espécie que causa alergia em determinadas pessoas, ao ser transportado para outra espécie, pode provocar a transferência desta característica. Por exemplo, pessoas alérgicas à castanha-do-pará que comerem produtos contendo um tipo de soja transgênica com gene de castanha-do-pará, também poderiam experimentar as mesmas reações alérgicas.
Resistência antibiótica
Outro argumento contrário é o de que a introdução de variedades transgênicas com genes de resistência antibiótica podem prejudicar o tratamento de algumas doenças em homens e animais. Alimentos transgênicos contendo genes que conferem resistência a antibióticos provocariam a transferência desta característica para bactérias existentes no organismo humano. O DNA transgênico ingerido em alimentos poderia recombinar-se no estômago e no intestino humanos, transferindo às bactérias da flora intestinal propriedades como a resistência a antibióticos. Os defensores da engenharia genética argumentam que a probabilidade de que ocorra a transferência deste gene é pequena, mas cientistas e autoridades que fazem as regulamentações, afirmam que mesmo o menor risco seria inaceitável.
Poluição genética
A poluição genética, a perda de biodiversidade, o surgimento de ervas daninhas resistentes a herbicidas, o aumento do uso de agrotóxicos e a perda da fertilidade natural do solo estariam entre os principais riscos ambientais. A poluição genética se dá através do cruzamento de variedades transgênicas com variedades selvagens e convencionais. Isso está acontecendo com o milho, no México, e já foi comprovado cientificamente, conforme divulgado pela revista científica britânica Nature (29/11/2001). Os pesquisadores da Universidade da Califórnia em Berkeley (EUA), David Quist e Ignacio Chapela, que assinaram o trabalho, comprovaram que o pólen de milho transgênico fertilizou o milho nativo. Esse cruzamento, alegam os ambientalistas, causa a perda de biodiversidade, sendo irreversível e incontrolável.
Organizações como o Greenpeace, associações indígenas e o MST questionam a forma como são feitas as lavouras experimentais com OGMs, justamente por temer contaminações de outras lavouras não-transgênicas. O problema maior ocorre com o próprio milho, que se reproduz através da polinização, com a ação do vento, de pássaros e de insetos.
Superpragas
Outro problema ambiental grave seria o aparecimento de superpragas e ervas daninhas resistentes a herbicidas. Com o tempo, as pragas e ervas daninhas que normalmente atingem as lavouras transgênicas poderiam adquirir a mesma resistência a herbicidas, o que exigiria maior uso de agrotóxicos pelos agricultores. Em conseqüência, aumentaria a poluição da água e do solo, e a quantidade de substâncias tóxicas nos alimentos.
Os transgênicos podem também matar os insetos benéficos para a agricultura e afetar a vida microbiana do solo, causando impactos irreversíveis na natureza. A toxina Bt, por exemplo, pode ser incorporada ao solo junto com resíduos de culturas, afetando invertebrados e/ou microorganismos que têm importante função na reciclagem de nutrientes para uso das plantas. Também o uso maciço de herbicidas nos campos cultivados com variedades em que se introduziu resistência a estes agrotóxicos, como é o caso da soja Roundup Ready, pode afetar a capacidade de multiplicação no solo das bactérias que retiram nitrogênio do ar e permitem a fertilização natural desta leguminosa.
Dependência tecnológica
Outros temem ainda não só pela saúde da população e pelo equilíbrio ambiental, mas também pela criação de dependência por parte dos agricultores em relação aos fornecedores de sementes. Como a técnica de fabricação dos transgênicos custa caro, as pequenas empresas de sementes poderiam ser excluídas do mercado e os grandes grupos passariam a dominá-lo através de patentes, ditando preços e regras.
A monopolização das sementes por empresas multinacionais, e a impossibilidade de reprodução das mesmas, assombra os pequenos agricultores. Com os transgênicos, o agricultor teme perder o controle sobre seu principal insumo, a semente, ficando nas mão das grandes empresas de biotecnologia. O pagamento de royalties pode inviabilizar a agricultura familiar, acreditam os movimentos do campo, como a Contag e o MST, para quem as sementes são um patrimônio da humanidade.
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