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"Conhecemos muito pouco sobre os transgênicos"

Adriano Floriani

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» Entrevista: Rubens Nodari

Engenheiro agrônomo com doutorado em genética pela Universidade da Califórnia, Rubens Onofre Nodari é gerente de recursos genéticos da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente. De acordo com o pesquisador, os estudos existentes sobre os transgênicos são insuficientes para atestar a inexistência de riscos para a saúde e o meio ambiente. Nodari admite que há possibilidade de o governo fazer pesquisas independentes a partir do próximo ano. Confira a entrevista:

Repórter Terra - Os alimentos transgênicos oferecem riscos para a saúde e para o ambiente?
Nodari - Não há dúvida. O conhecimento que nós temos sobre os efeitos e riscos é muito baixo. A soja foi lançada nos Estados Unidos em 1996. Eles fizeram estudos de segurança alimentar de curta duração. Se é de curta duração, não se sabe o efeito no valor adaptativo dos indivíduos, na reprodução, etc... Então, na verdade, quando eles dizem que fizeram estudos, de fato eles foram feitos, mas são mínimos. Ou seja, de curta duração, número reduzido de características avaliadas, a soja não tinha glifosato em cima para avaliar efeito colateral. Com o milho ocorreu a mesma coisa. O milho Bt tem uma toxina dentro dele mortal para alguns tipos de inseto, mas sobre a alimentação humana pouco se conhece. É verdade que não temos informações suficientes de que ocorrem riscos, mas também não sabemos se os riscos não existem, até porque isso não foi pesquisado suficientemente. O que podemos assumir de fato é que conhecemos muito pouco sobre o assunto.

Repórter Terra - Não há estudos suficientes sobre o impacto dos transgênicos?
Nodari - Só agora em 2003 foi publicado o primeiro grande estudo de longa duração feito na Inglaterra, que começou em 1999, época em que eles tinham uma polêmica igual à nossa. Eles pegaram três espécies, milho, beterraba e canola e pediram para os cientistas estudarem o impacto na biodiversidade. No caso da beterraba e da canola, os sistemas transgênicos causavam impacto maior na biodiversidade do que o convencional. Com o milho foi o inverso, pois era usado um herbicida muito forte no sistema convencional. Então agora a Inglaterra pode decidir em cima destes estudos. E nós, o que temos no Brasil? A Inglaterra fez 60 estações experimentais, cobrindo todo o País. É isso que precisamos fazer no Brasil: estudos de impacto ambiental, de segurança alimentar e só depois tomar a decisão de liberar ou não os transgênicos.

Repórter Terra - Os estudos feitos em um determinado país servem para outros países?
Nodari - Não. As características dos ecossistemas são diferentes. Lá (Inglaterra) deu um resultado, aqui pode dar diferente. É preciso fazer alguns esclarecimentos sobre o princípio da precaução. Muita gente diz que o princípio da precaução pode levar a uma condenação da tecnologia. Isso não é verdade. O princípio da precaução apregoa que você diminua suas incertezas a respeito do assunto. Não vamos conhecer tudo sobre o fenômeno. Dúvidas sempre irão permanecer. Mas precisamos conhecer algumas coisas cruciais sobre os OGMs em relação à saúde humana e ao ambiente.

Repórter Terra - O Brasil tem algo a perder plantando transgênicos?
Nodari - Liberando com pressa, podemos ter problemas inesperados do ponto de vista do meio ambiente. Por exemplo, no caso da soja, o Brasil tem uma grande vantagem competitiva. Isso porque temos nos trópicos um sistema de fixação biológica de nitrogênio através de uma bactéria de solo que incorpora nitrogênio para a planta de graça, e não sabemos o efeito dos transgênicos nesse sistema. O agricultor não gasta com adubo nitrogenado para cultivar a soja. Nos Estados Unidos gasta. Estou dando um exemplo. Outro exemplo é que nos Estados Unidos está ocorrendo uma diminuição da produtividade da soja transgênica em 4% nos últimos anos. Existem efeitos no ambiente que demoram a aparecer. Utilizando sempre a mesma variedade e sempre o mesmo herbicida, pode ser que alguns microorganismos de solo morram e outros sejam vencidos. Então a gente pode estar alterando toda a biota do solo. Essa é uma hipótese que está sendo levantada.

Repórter Terra - No caso da soja transgênica, o senhor diria que os interesses econômicos estão prevalecendo sobre os interesses da sociedade?
Nodari - Os interesses econômicos de poucos. É verdade que é mais barato hoje para os agricultores, mas até começaram a pagar os royalties. Quem vai ganhar dinheiro é basicamente a empresa que vai licenciar a tecnologia, cobrar a patente e ainda vai vender o herbicida para o agricultor.

Repórter Terra - Há divisões dentro do governo sobre a questão dos transgênicos. O governo Lula teme perder o apoio do movimento ambiental?
Nodari - O projeto de Lei de Biossegurança foi uma decisão de governo. É claro que houve divisões, mas no projeto está garantido que depois da decisão da CTNBio todas os processos vão para os órgãos. Um deles é o Ibama. Então a questão ambiental está resguardada, a não ser que o Congresso mude (o projeto). De uma forma bem explícita, o governo garantiu as competências para o Ministérios da Saúde, do Meio Ambiente, da Agricultura, para também analisar todos os pedidos de OGMs. Acho que os ambientalistas estão mais contra a MP da soja (Medida Provisória 131, que libera o plantio e a comercialização da safra de soja transgênica plantada no segundo semestre deste ano) do que contra o projeto de lei. A questão dos transgênicos é um tema multidisciplinar. Essa discussão de contra ou a favor não leva a nada. Tem que olhar cada caso. O projeto que o governo enviou aumenta a participação da sociedade na CTNBio, dá maior transparência e resolve essas confusões (muitas ações estão na justiça). A idéia é que o projeto seja um balisamento para a sociedade e para os próprios órgãos de governo.

Repórter Terra - O governo pretende promover pesquisas para avaliar o impacto dos transgênicos?
Nodari - Na verdade quem deve fazer os estudos são os proponentes da tecnologia. Mas há possibilidade do governo fazer pesquisas independentes a partir do ano que vem. No ministério (Meio Ambiente) teremos um programa no ano que vem de biossegurança e vamos capacitar técnicos do Ibama (analistas e fiscais) e dos órgãos estaduais de ambiente.

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