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Ausência de estudos alimenta dúvidas sobre os riscos
Adriano Floriani
O tema transgênicos é complexo e mexe com diferentes interesses. Mas é a inexistência de estudos conclusivos sobre os OGMs que dá margem para dúvidas e provoca as discussões mais acirradas. Nesse contexto de incertezas, é possível que o governo brasileiro venha a financiar pesquisas independentes a partir do próximo ano (leia entrevista com Rubens Onofre Nodari, gerente de recursos genéticos do Ministério do Meio Ambiente).
Atualmente, os critérios para determinar o risco potencial de um OGM, aceitos por instituições internacionais como a Organização Mundial de Saúde (OMS), baseiam-se na "equivalência substancial". Ou seja, quando os alimentos transgênicos são considerados tão similares aos congêneres não-transgênicos que sua segurança é presumida.
O método não é considerado suficiente, segundo alguns especialistas, porque os produtos obtidos por organismos geneticamente modificados são diferentes dos produtos obtidos por técnicas de melhoramento tradicionais. Ao introduzir genes de outros organismos, a engenharia genética causa ruptura da seqüência do DNA da planta.
O gene inserido, muitas vezes, não produz apenas a característica desejada, porque se relaciona com o restante do código genético e tem o potencial de induzir à produção de substâncias secundárias inesperadas. Há o temor de que estas substâncias possam causar problemas de saúde e também para o ambiente.
Pesquisa britânica
Um estudo divulgado recentemente pela Sociedade Real Britânica reforçou os alertas dos ambientalistas de que cultivos transgênicos podem ser prejudiciais ao meio ambiente. As 138 páginas de informações técnicas colhidas em 60 campos de cultivo espalhados pelo país foram publicadas em outubro pela revista científica "Philosophical Transactions B" (www.pubs.royalsoc.ac.uk). Os três vegetais estudados eram resistentes a herbicidas: a canola e a beterraba são imunes ao glifosato (a mesma substância associada com a soja transgênica) e o milho é resistente ao glufosinato.
Nos campos de canola e beterraba, verificou-se diminuição da população de ervas daninhas, sobrando 20% menos sementes de ervas na terra depois da colheita. Isso quer dizer que a quantidade dessas ervas tende a diminuir nas gerações seguintes, afetando populações de outros organismos que delas se alimentam, como insetos, caracóis e passarinhos.
No caso do milho, o efeito foi oposto: cresceu a população de ervas. Adversários dos transgênicos já criticam esse resultado, alegando que o plantio convencional de milho usado para comparação foi tratado com um produto muito agressivo, a atrazina, que está para ser banido na Europa. O projeto custou 6 milhões de libras esterlinas (cerca de US$ 9,6 milhões).
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