Falar de Roberto Gómez Bolaños, o Chaves, sem relacioná-lo ao esporte é como imaginar Chaves sem padecer de seu ‘piripaque’, ou o Chapolin Colorado sem sua Marreta Biônica.
E se Roberto Bolaños tem uma grande paixão além da comédia é seu amor pelos esportes, principalmente pelo futebol, como deixou claro em diversas ocasiões.
Basta recordar as duas comédias El Chanfle (1878 e 1982) em que Chespirito mostra seu amor pela ‘pelada’ ao interpretar um ingênuo, mas de bom coração, carregador de água que graças a sua honra e dedicação se torna um treinador das divisões de base do clube mexicano América.
Fiel a sua veia humorística, Bolaños não deixou passar a oportunidade de caricaturar alguns dos personagens do futebol mexicano dos anos 1970 na trama de ‘El Chanfle’.
Ramón Valdés, por exemplo, interpretou o treinador ‘Moncho Reyes’, um tipo inspirado na personalidade do técnico mexicano Ignacio Trelles. Desde a aparência física até os acessos de raiva e truques, ‘Moncho’ tem muitas características de sua parte real.
O jogador chileno Carlos Reinoso, popular entre os apaixonados pelo esporte e ídolo do Club América nos anos 1970, também foi homenageado por Bolaños. O atleta teve seu correspondente fictício com ‘Valentino Milton’ (Carlos Villagrán), que é o goleador mais admirado por ‘El Chanfle’.
Menos sutil, mas ainda relevante, foi o feito que ‘El Chanfle’ trabalhava para Club América, time que Bolaños sempre torceu. O clube é ainda de propriedade do canal Televisa, o mesmo que criou a carreira do ator no cinema e na televisão.
Durante a década de 70, os artistas do império de comunicação eram obrigados a torcer para o time, então de propriedade de Emilio 'El Tigre' Azcárraga Milmo, pai do atual proprietário e presidente da Televisa, , Emilio Azcárraga Jean.
Bolaños mostrou muitas vezes que Chaves sonhava ser um grande jogador de futebol, chutando uma bola pelo pátio da vila e fingindo que era um de seus ídolos. O que o criador não sabia na época é que um dia alguns desses atletas também louvariam seu programa.
Esse é o caso do chileno Sebastián González, o Chamagol, que fez carreira no México e mostrava sua admiração por Bolaños ao celebrar seus gols com a Marreta Biônica, com o gorro do Chaves ou com uma camiseta com o emblema do Chapolin Colorado.
Mas, apesar da paixão que Bolaños chegou a sentir pelo futebol, as práticas antidesportivas foram desiludindo e afastando-o do esporte.
“O futebol me fascina, era minha obsessão. Mas hoje não mais”, disse Bolanõs em um chat pelo Twitter em 29 de julho de 2011. “Não mais, porque reina a culpa, a falta de caráter, a atuação”.
Porém, anos depois de protagonizar ‘El Chanfle’, no dia 31 de outubro de 2005, Roberto Bolaños voltou a se aproximar do futebol no programa ‘La Noche del 10’, apresentado por Diego Maradona.
No programa, o astro argentino não hesitou em dizer “você é meu ídolo, de verdade”. Bolaños devolveu o cumprimento de maneira simples e sensível: “e o meu é Maradona”. Os fãs latino-americanos de ambos se emocionaram com o grande elogio dessas duas figuras.
O cumprimento de Maradona ao escritor, diretor e produtor não foi gratuito, pois a influência de Bolaños tem superado as barreiras do tempo e do espaço, colocando-o como um estandarte da cultura popular mexicana e latino-americana.