Sydney - Uma mistura de alegria e tristeza ainda embaralhava os sentimentos do nadador Gustavo Borges nesta quinta-feira, dias depois de ter ficado fora da final dos 100 m nado livre, a prova mais tradicional da natação. Alegria, pelo bronze do revezamento 4x100 m nado livre, sua quarta medalha olímpica - assumiu o posto de recordista do Brasil em número de medalhas. Mas desapontamento por não nadar bem a distância que mais gosta. "Na hora de tudo dar certo, não saiu a prova."
Gustavo, que não fala em aposentadoria, deixa Sydney no domingo, de volta ao Brasil para um período de férias com a mulher Barbara e o filho Gustavinho. Vai pensar no futuro, mas confessa que gostaria de nadar os 100 m abaixo dos 49 segundos antes de encerrar a carreira. "Ainda tenho gás", ressalta. "Foi um ano de muitos 48 segundos nos 100 metros, só faltou eu fazer." O objetivo de baixar o tempo continua em pé, "até quando der, até quando eu perceber que tentei de todas as formas fazer um bom resultado e não consegui".
Só depois das férias, Gustavo vai definir as prioridades e as competições internacionais que disputará. "Vou ter de reavaliar tudo o que venho fazendo porque preciso continuar com vontade de treinar, sem isso não é possível." No momento quer "tirar um pouco a cabeça de tudo isso" e reestruturar a sua vida.
Gustavo acha que a natação brasileira evoluiu nos últimos quatro anos, apesar disso não estar refletido na participação do Brasil em Sydney, em que os nadadores não conseguiram melhorar suas marcas e baixar recordes sul-americanos como planejavam. Essa diferença do Brasil para o restante do mundo ficou acentuada pela evolução de vários países na natação. "Essa foi uma Olimpíada diferente das outras, em que para ganhar uma medalha foi preciso bater o recorde mundial."
Nos Jogos de Atlanta foram três os recordes mundiais estabelecidos, contra 11 em Sydney, em cinco dias de competição. "É uma Olimpíada muito dura e no geral acho que sair daqui com a quarta medalha até que foi bom, não posso reclamar." Mas Gustavo tem de admitir que muitos outros países evoluíram bem mais que o Brasil, além dos Estados Unidos e Austrália, dos quais já se esperava um bom trabalho. Como exemplo citou a Itália. "Até essa Olimpíada a natação brasileira tinha mais medalhas que a Itália, o placar era de 8 a 7, e só nessa Olimpíada eles conseguiram 6 em cinco dias."
Apontou uma evolução no nado peito, citando o especialista no estilo, Domenico Fioravanti, que quebrou o recorde olímpico dos 100 metros e ficou perto de derrubar uma das marcas mais antigas, de Mike Barrowman, dos Estados Unidos, de 1992, nos 200 metros. "Isso depende muito de uma safra de nadadores, de talentos que estão ali dentro, bons técnicos - o que no Brasil ainda é um pouco carente disso - mais estrutura." Se o Brasil está melhorando, Gustavo acha que "algo mais" precisa ser feito para a natação "dar um salto maior", lapidando os talentos existentes.
A principal estrela dos Jogos na sua avaliação foi o holandês Pieter van den Hoogenband. As atenções voltaram-se para o atleta quando ele bateu o invencível Ian Thorpe (nos 200 m, livre) e o russo Aleksandr Popov, que vinha como imbatível em dois Jogos Olímpicos seguidos, nos 100 m, livre. "Se eu fosse pegar um resultado destacado nessa Olimpíada, eu pegaria os 47s64 dos 100 m, livre", comentou. Nadar em menos de 48 segundos significou quebrar uma barreira, o que nunca havia ocorrido e que, por isso, surpreende.
"A prova do Thorpe nos 400 metros também foi impressionante, mas ele vem fazendo tantas coisas seguidas que o pessoal até esquece um pouco o que é o tempo de 3min40s em uma prova dessas", analisou. "São duas marcas excepcionais."