Os motivos da crise energética
Falta de chuvas ou de investimentos do governo? Qualquer que seja o culpado pela crise energética que ameaça a economia e a tranqüilidade do País, alguns fatos são claros: os reservatórios das usinas hidrelétricas do Sudeste, região que mais consome energia no País, estão abaixo da capacidade. Os reservatórios deveriam estar com pelo menos 50% da capacidade, para enfrentar o período sem chuvas que dura o outono e o inverno na região. As hidrelétricas, no entanto, estão com os reservatórios abastecidos em apenas 34%.
Em outros países, os investimentos em energia são feitos em diferentes tipos de usinas, justamente para evitar crises quando um modelo tem problemas de abastecimento. No Brasil, ao contrário, 87% da eletricidade é de origem hidroelétrica e depende da boa vontade de São Pedro. O resto é produzido pelas centrais termoelétricas (10%) e pelos reatores das centrais nucleares de Angra dos Reis (2%).
O governo culpa a falta de chuvas pela crise energética. Fernando Henrique, em discurso sobre o assunto, afirma ter sido pego de surpresa pela necessidade de racionamento. "E faço questão de ressaltar a palavra 'surpresa'", repetiu o presidente. O Instituto Nacional de Metereologia informa que na região de Furnas, por exemplo, o índice de chuvas é o pior dos últimos 20 anos e, já em março, o instituto avisava que era improvável que as chuvas de abril e maio fossem suficientes para encher os reservatórios que abastecem as hidrelétricas do Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste.
O ministro da Economia, Pedro Malan, no entanto, admite que faltou comunicação entre as várias áreas do governo para pelo menos diminuir os efeitos da crise energética. A falta de investimentos no setor é apontada por especialistas como a principal culpada pela crise atual. A produção de energia recebia anualmente, em média, US$ 13 bilhões em investimentos. Na década de 90, este valor caiu para US$ 7 bilhões, embora o consumo não tenha parado de crescer: ele aumenta 5% por ano.
O professor Luiz Pinguelli Rosa, da UFRJ, afirmou à Reuters que, mesmo que o Brasil consiga passar por esta crise, à custa de racionamento e cortes, o problema pode persistir por mais três anos. "O problema atual não tem nada a ver com São Pedro. Não é por falta de chuva neste ano, mas porque os reservatórios vêm sendo esvaziados porque a operação é feita com insuficiência de equipamentos", explicou. Segundo ele, o problema só vai ser resolvido nos próximos anos, na medida em que entrarem em operação as termoelétricas previstas no plano emergencial do governo federal.
Outro problema, além da falta de investimentos, é a falta de integração que existe entre as diversas usinas. Enquanto as hidrelétricas do Sudeste enfrentam os níveis mais baixos de abastecimento desde que foram construídas, sobra água e energia no Sul e no Norte, onde as usinas estão, em média, com altos níveis de abastecimento. A falta de linhas de transmissão de alta capacidade impede a transmissão de energia entre estas regiões e, até por isso, excluiu, pelo menos até setembro, as duas regiões do racionamento, que será adotado no Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste.
Redação Terra
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