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Os OGMs e o meio ambiente
Agricultores ecológicos temem impacto dos transgênicos

Adriano Floriani

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Ambientalistas, pequenos agricultores, consumidores e parte da comunidade científica brasileira denunciam que os transgênicos estão sendo utilizados na alimentação humana e animal sem que haja consenso no meio científico sobre sua segurança. Há quatro anos a "Campanha por um Brasil Livre de Transgênicos", uma rede integrada por 82 organizações (ONGs), busca conscientizar a opinião pública sobre os riscos que os produtos transgênicos podem trazer para a saúde e para o meio ambiente.

Muitos apostam na agricultura orgânica e ecológica para garantir uma alimentação saudável e sem os temores provocados pelos transgênicos. A ONG Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa (AS-PTA), com sede no Rio de Janeiro (RJ), estima que haja pelo menos 50 mil famílias de agricultores que estejam substituindo sistemas convencionais pelos princípios da agroecologia, baseados na não utilização de agroquímicos, no manejo ecológico do solo e no respeito à sazonalidade dos produtos. "A agroecologia está crescendo rápido. Mas falta políticas públicas que pelo menos não atrapalhem", afirma Jean Marc von der Weid, economista, consultor da FAO (órgão das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) e diretor da AS-PTA.

A engenheira agrônoma Flávia Londres, da coordenação da "Campanha por um Brasil Livre de Trasngênicos", contesta a versão dos produtores rurais de que a soja transgênica tenha custo menor do que a convencional. "Nos Estados Unidos, no Canadá e na Argentina não está sendo mais barato", afirma. "Pode ser nos dois ou três primeiros anos. Depois, começando a usar herbicida glifosato todos os anos, as plantas daninhas começam a desenvolver resistência, e exigem cada vez mais quantidade de Roundup para ter eficácia", diz.

Conforme a engenheira agrônoma, os agricultores brasileiros ainda não estão sentindo a diferença no bolso. "Nos Estados Unidos, as sementes transgênicas são de 40% a 60% mais caras do que as convencionais". Além disso, conta Flávia, o agricultor tem que assinar contrato quando compra a semente se comprometendo a usá-la apenas como grão. Para garantir o cumprimento do contrato, afirma ela, as multinacionais detentoras da tecnologia chegariam a contratar detetives particulares.

Contaminação da lavoura

Flávia Londres acredita que a liberação dos OGMs no Brasil pode, inclusive, inviabilizar a agricultura ecológica. Ela cita como exemplo o caso do agricultor canadense Percy Schmeiser (https://www.percyschmeiser.com), processado pela Monsanto, detentora da tecnologia Roundup Ready. Schmeiser cultivou canola por mais de 50 anos em sua propriedade, no oeste do Canadá. Ele era conhecido como melhorista de sementes e afirma nunca ter plantado canola transgênica.

A Monsanto entrou na justiça contra ele, alegando que o canadense havia obtido sementes transgênicas ilegalmente e plantado sem licença. Schmeiser alega que sua lavoura foi contaminada pela canola transgênica do vizinho, e está impedido de plantar suas sementes "próprias" de canola. O agricultor perdeu o julgamento em primeira instância e pode ser condenado a pagar 1 milhão de dólares canadenses à empresa.

Casos como esse servem como argumento para as ONGs como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. O MST considera que os transgênicos vieram para aumentar o nível de dependência da agricultura brasileira em relação a grandes grupos multinacionais do agronegócio. "Entendemos que as sementes são um patrimônio da humanidade, e esse patrimônio deve estar a serviço das pessoas, e não do lucro", diz o engenheiro agrônomo Vicente Eduardo Soares de Almeida - coordenador do Setor Nacional de Produção, Cooperação e Meio Ambiente do MST.

Nem só de transgênicos vive a agricultura gaúcha. Criada em 1978, a Cooperativa Coolméia, pioneira em agricultura ecológica no Brasil, reúne hoje cerca de 1 mil produtores associados, em 45 municípios gaúchos. Conforme a coordenadora do comitê de educação e comunicação da cooperativa, Marice Padilha, um dos principais trabalhos é a luta pela preservação de sementes crioulas (nativas), algumas quase extintas. Uma das iniciativas estimula a realização de feiras para a troca de sementes crioulas entre os produtores. "É uma ação de proteção à vida. Se não tiver, o produtor ficar nas mãos das multinacionais."

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