São Paulo - Não é por acaso que Corinthians e Palmeiras estão despertando a ira de seus torcedores. Os dois clubes enfrentam, por motivos diferentes, uma revolução nos elencos de seus times. A Hicks Muse quer se recapitalizar depois do fracasso da Libertadores e a Parmalat está saindo de vez do Palmeiras. Com isso, as torcidas que ficaram mal acostumadas a acompanhar ídolos como Dida, Alex, Vampeta, Júnior estão revoltadas.
No Palmeiras, o último semestre de 2000 era aguardado com muito medo. Desde janeiro a cúpula da multinacional havia chegado à conclusão de colocar um fim na co-gestão com o clube brasileiro. A administração conjunta havia se iniciado em 1992. O projeto chegou ao seu ápice com a conquista da Libertadores de 1999 e a decisão do título mundial em Tóquio. Com a derrota para o Manchester e, prinpalmente, com a mudança da filosofia da cúpula da Parmalat, começou a saída dos grandes jogadores comprados com as liras italianas.
"É fácil explicar. A Parmalat resolveu aplicar seu dinheiro nos produtos, no leite mesmo. Então a co-gestão com o Palmeiras deixou de interessar. A ordem foi resgatar os atletas que pertenciam aos italianos e ponto final", explica o ex-gerente de futebol, Paulo Angioni.
Assim, Alex, Roque Júnior, César Sampaio e Júnior foram embora no segundo desmanche. No primeiro, Cléber, Paulo Nunes, Zinho, entre outros, já tinham partido. A saída para os palmeirenses é esperar o novo patrocinador, provalmente a ISL e a Microsoft, para contar com time forte novamente.
O processo de reestruturação do time bicampeão brasileiro e campeão mundial não pode ser considerado um plano da Hicks Muse com o objetivo de recapitalizar o dinheiro investido no Projeto Corinthians. Das grandes estrelas que deixaram o time no segundo semestre, todas foram negociadas por vontade própria - e não porque a Hicks planejava alcançar lucros imediatos com as transações.
Vários motivos: Dida voltou para o Milan porque ele mesmo não se esforçou para continuar no Parque São Jorge; Edílson foi embora porque se aproveitou de uma situação em que a Gaviões invadiu o Parque São Jorge para cobrar os jogadores; e Vampeta só foi negociado porque seu empresário, Reinaldo Pitta, quando discutiu a renovação do contrato do jogador, praticamente obrigou o clube a inserir uma cláusula de compromisso se obrigando a vender o volante se aparecesse uma proposta de US$ 15 milhões, livres.
Quanto ao compromisso de reinvestir no futebol profissional todo o dinheiro arrecadado com a negociação de suas estrelas, a empresa vai fazer isso. No entanto, só parte dos US$ 22,5 milhões correspondentes à venda dos passes de Edílson e de Vampeta será destinada às contratações. A outra - cujo valor ainda será estipulado - deve cobrir o rombo de aproximadamente R$ 1 milhão/mês no ano passado.
Nesse déficit estão incluídos os prejuízos normais do futebol brasileiro e as dificuldades financeiras que o clube tinha antes da chegada da Hicks Muse, ou seja, os US$ 30 milhões que a empresa antecipou ao Corinthians para quitar as suas dívidas no começo da parceria. Um dinheiro que, com certeza, está fazendo falta agora, numa época em que o time precisaria investir mais em contratações. Empolgados com o trabalho no Cruzeiro, os dirigentes da Hicks Muse ainda vão investir no Corinthians. Mas a médio prazo, sem pressa.