Mais e mais evidências indicam que a inflamação moderada e crônica está associada ao desenvolvimento da diabete do tipo 2, a forma mais comum da doença, segundo um estudo brasileiro apresentado durante o encontro anual da Associação Americana de Diabete, no sábado. "Demonstramos que marcadores de inflamação predizem e avançam para a diabete," disse Bruce Duncan, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A diabete do tipo 2 está associada à obesidade e, geralmente, afeta adultos mais velhos. Com o crescimento das taxas de obesidade, no entanto, esse tipo da doença está sendo diagnosticado cada vez mais entre adultos jovens e crianças. Uma pesquisa anterior havia indicado que a inflamação pode ter um papel na suscetibilidade à diabete, assim como médicos perceberam que as respostas inflamatórias influenciam na doença cardíaca, que tem muitos fatores de risco em comum com a diabete. Mas não se sabe ainda qual papel a inflamação tem na diabete.
A diabete do tipo 2 resulta da incapacidade do corpo de usar corretamente a insulina. Isso leva a níveis sanguíneos de açúcar excessivamente altos que, por sua vez, podem elevar o risco de cegueira, doenças renais e amputações. No novo estudo brasileiro, Duncan e sua equipe analisaram quatro marcadores sanguíneos que indicam a inflamação. Eles selecionaram 651 pessoas que desenvolveram diabete e 643 que não tinham a doença, de um estudo maior de 10 mil pessoas acompanhadas por nove anos.
Depois, os cientistas compararam os dois grupos, analisando os quatro marcadores inflamatórios: proteína C-reativa, orosomucóide, ácido siálico e interleucina-6. Eles levaram em consideração fatores que poderiam influenciar o desenvolvimento da enfermidade, como idade, sexo e etnia. Duncan afirmou que aqueles com o nível mais elevado de ácido siálico tiveram um risco 70 por cento maior de desenvolver diabete, do que os com índices mais baixo. Ele também encontrou evidências de que todos os quatro marcadores estavam associados a um risco duas a três vezes maior de desenvolver a doença. Mas essa evidência sofreu redução, quando fatores como índice de massa corporal e níveis de glicose foram ajustados.
"Embora os estudos tenham sido inconsistentes, o peso da prova científica é que existe uma associação", ressaltou ele. "A questão é menos 'ela existe?' e mais 'por que ela existe'." Uma teoria, de acordo com Paresh Dandona, diretor da divisão de endocrinologia, diabete e metabolismo da Universidade Estadual de Nova York, em Buffalo, é que o consumo alimentar pode causar uma resposta inflamatória, que estaria sempre presente entre os obesos.
As respostas antiinflamatórias do corpo podem bloquear de alguma forma o funcionamento normal da insulina, levando ao desenvolvimento da diabete, disse ele. Essa resposta à inflamação pode ajudar a explicar por que a obesidade pode levar à diabete e indica formas de prevenção. Por exemplo, em uma pesquisa relacionada, Dandona apresentou descobertas que indicam que certos medicamentos, como a droga rosiglitazona, que diminui os níveis de açúcar no sangue, pode reduzir certos marcadores inflamatórios em 20 a 40%, após seis semanas de uso, e pode reduzir também o risco de diabete.