Entrave para revalidar diploma cubano leva a trabalho ilegal

Cartola - Agência de Conteúdo
Especial para o Terra

Paola Moretti estudou por dois anos no Instituto Superior de Ciências Médicas de Camagüey, mas resolveu voltar
Crédito: Arquivo Pessoal

  Terminada a faculdade de medicina em Cuba, os estudantes enfrentam dificuldades na volta ao Brasil. "Tive amigos que voltaram e demoraram muito tempo para conseguir e revalidação do diploma. Muitos deles tiveram que cursar disciplinas adicionais em universidades brasileiras. Alguns até exerceram a medicina ilegalmente antes de terem o diploma revalidado", conta Paola Moretti, gaúcha que estudou por dois anos no Instituto Superior de Ciências Médicas de Camagüey, na década de 1990, mas acabou abandonando o curso. "O grande problema foi a saudade da família. A comunicação era muito complicada, o e-mail demorava duas semanas para chegar, meus pais não recebiam minhas ligações", relata.

  Na época, com a paridade entre dólar e real, a família da estudante achou a quantia de US$ 7,5 mil anuais aceitável para que ela estudasse no país sem bolsa do governo cubano. Hoje, com 33 anos e formada em medicina pela Universidade Católica de Pelotas (UCPel), no Rio Grande do Sul, Paola admite que não repetiria a experiência. Na visão da médica, há outros pontos negativos além dos entraves para a revalidação do diploma. "Acho complicado fazer faculdade em outro país, porque são realidades e procedimentos médicos diferentes, mas, sem dúvida, foi muito legal como história de vida", diz.

  A fim de facilitar a revalidação do diploma de medicina, o Revalida foi criado por uma portaria dos Ministérios da Saúde e Educação no ano passado, após projeto-piloto em 2010. A prova nacional pode ser aplicada por universidades públicas, mas a adoção é opcional. Instituições como a USP, por exemplo, utilizam critérios próprios para a revalidação de diplomas estrangeiros.

  O processo é composto por duas etapas, sendo a primeira de 110 questões objetivas e cinco discursivas e, a segunda, com 10 fases em que os candidatos realizam tarefas específicas de áreas médicas, como cirurgia. Em 2011, 140 estudantes formados em Cuba se inscreveram no Revalida. Desses, três tiveram o diploma revalidado. O MEC não soube informar o número de brasileiros diplomados em Cuba que conseguiram a revalidação através de exame.

  Para Marcéu Flores, que se formou esse ano e se inscreveu para

a prova de revalidação da Universidade Federal Fluminense, o processo, em geral, não é justo. "Nós somos a favor de uma prova, claro, mas as aplicadas pelas universidades brasileiras são absurdas, voltadas para a reprovação. Isso melhorou com o Revalida, apesar do piloto, em 2010, não ter tido tempo suficiente - quatro horas para resolver enunciados gigantes. Mas em 2011 a prova ficou mais equilibrada, com uma hora adicional, e mais pessoas foram aprovadas", afirma o recém-formado.

  Ao contrário de Paola, Marcéu afirma não se arrepender de ter se formado em Cuba, e destaca os conhecimentos adquiridos ao longo dos seis anos do curso: "Recebo algumas críticas de pessoas que têm uma ideia política deformada de Cuba, mas estou muito satisfeito: conheci novas culturas e aprendi muito sobre a medicina", finaliza.

"São realidades e procedimentos médicos diferentes", explica
Crédito: Arquivo Pessoal