Uma coisa eles têm em comum: são mamíferos que vivem no mar. Mas as diferenças são enormes, principalmente no tamanho. De um lado, o maior ser vivo do nosso planeta, a baleia. De outro, o brincalhão e esperto golfinho. Pois pode parecer conversa de pescador, mas esses dois animais podem cruzar e ter filhotes. Não apenas isso, o híbrido de baleia e golfinho é fértil - pode se reproduzir.
O problema é que quando pensamos em baleias lembramos logo dos gigantes, mas esquecemos que existem muitas espécies menores, como, por exemplo, a falsa-orca (Pseudorca crassidens). Segundo o biólogo Roberto do Val Vilela, do setor de mamíferos do Zoológico de São Paulo, a falsa-orca pode cruzar com o golfinho-nariz-de-garrafa (Tursiops truncatus). O resultado é chamado de wolphin (do inglês whale e dolphin).
A falsa-orca, assim como a orca e a gigante cachalote, faz parte das chamadas baleias com dentes, que são muito mais próximas dos golfinhos do que outras baleias, como a azul. Todos estes animais são cetáceos, mas as baleias com dentes e os golfinhos fazem parte da subordem Odontoceti, enquanto as outras estão na Mysticeti. A principal diferença entre eles é que os animais da segunda subordem têm cerdas de material queratinoso no lugar dos dentes - este material permite que eles filtrem a água para recolher alimento.
Mesmo dentro da subordem Odontoceti, a falsa-orca é mais próxima dos golfinhos, pertencendo, inclusive, à mesma família (Delphinidae), o que explica a possibilidade de cruzamento entre as duas espécies.
De acordo com Vilela, o DNA duas espécies possui até o mesmo número de cromossomos (44). Apesar de existirem relatos de que esse animal foi visto na natureza, são conhecidos apenas dois exemplares e ambos vivem no Sea Life Park, no Havaí.
O mais velho é Kekaimalu, uma fêmea que nasceu em 15 maio de 1985, resultado do cruzamento de um golfinho fêmea chamada Punahele que dividia sua piscina com um macho de falsa-orca chamado Tanui Hahai. Kekaimalu teve três filhotes, o primeiro tendo morrido em poucos dias. O segundo nasceu em 1991, era uma fêmea e foi chamada de Pohaikealoha.
Kekaimalu cuidava do filhote, mas não o amamentava, o que acabou ficando a cargo dos tratadores. Pohaikealoha morreu aos 9 anos e, em 23 de dezembro de 2004, nasceu o terceiro filhote da wolphin, uma fêmea chamada de Kawili Kai, filha de um nariz-de-garrafa macho. Ao contrário do segundo, este filhote foi amamentado pela mãe e, em poucos meses, tinha o tamanho de um nariz-de-garrafa de 1 ano.
Mas, como é um wholphin? Ele é, de certa forma, uma mistura dos pais. "O wholphin possui tamanho, cor e formato intermediários entre as espécies parentais. Ela possui 66 dentes, número intermediário entre o nariz-de-garrafa (88 dentes) e a falsa-orca (44 dentes)", diz o biólogo.
Os dois wolphins podem ser encontrados no parque, sendo que Kekaimalu é destaque nos shows de golfinhos do Sea Life.
Vilela diz ainda que a hibridação não ocorre sempre de forma natural, sendo a maioria dos híbridos conhecidos criada em cativeiro - apesar de muitas vezes isso ocorrer de forma acidental. A criação de híbridos em cativeiro é bastante discutida e pode ser considerada antiética.
O dono de um zoológico em Taiwan, por exemplo, corre o risco de ser multado pelo cruzamento entre um leão e uma tigresa. O criador diz que foi surpreendido com o cruzamento. Os filhotes sofrem de problemas genéticos, sendo que dois já morreram desde o nascimento e o terceiro ficou em estado crítico de saúde.