A maneira como os animais enxergam ou percebem o seu ambiente é bastante variável. Muitos sequer possuem estruturas para ver o ambiente: o percebem por meio de receptores químicos ou táteis, explica o professor da Faculdade de Biociências da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul Júlio César Bicca-Marques.
Outros têm olhos, mas usam outras formas para perceber o que os cerca: algumas serpentes detectam comprimentos de onda no espectro infravermelho - isso quer dizer que "enxergam" pelo calor do corpo dos outros animais. Alguns animais chegam a perceber comprimentos de onda invisíveis para o ser humano, como o ultravioleta visto por alguns insetos.
Entre os mamíferos, a visão também é bastante variada. Bicca-Marques explica que depende dos receptores que estão em células dentro da retina do animal. Os macacos-da-noite, por exemplo, têm hábitos noturnos e possuem apenas um tipo de receptor, sendo chamados de monocromatas.
Esse tipo de animal parece enxergar em preto-e-branco, e não há problema, porque à noite o papel da cor é secundário - o cheiro é mais importante para os animais. Muitos outros mamíferos têm dois tipos de pigmentos e são chamados de dicromatas - teriam uma visão parecida com a de um homem daltônico, que confunde determinados tipos de cores.
A maioria dos humanos é tricromata e vê o mundo verdadeiramente em cores. Os grandes símios, como orangotangos, gorilas e chimpanzés, são assim também. Mas o professor chama a atenção para algo interessante. Com exceção dos macacos-da-noite monocromatas e dos bugios tricromatas, todas as outras espécies de macacos das Américas têm indivíduos dicromatas e indivíduos tricromatas. Ou seja, em um mesmo grupo alguns podem enxergar o mundo em cores diferentes de outros.
"As vantagens evolutivas deste polimorfismo são debatidas pelos cientistas, porém sabe-se que homens daltônicos detectam objetos camuflados muito antes e melhor que homens com visão normal (tricromata). Acredita-se que esta variabilidade seja vantajosa para detectar predadores procurarem por alimentos", conta Bicca-Marques.